A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 3: III Pág. 35 / 508

Abatia-se-lhe aos pés um não muito profundo vale, opulento em vegetação, e que, a certa distância, se continuava insensível e gradualmente com uma ameníssima colina.

Além, um belo bosque de carvalhos seculares, que o Inverno, privando- os de folhas, tingira quase da cor da violeta, contrastava com a fronde sempre verde das laranjeiras nos pomares vizinhos, fronde por entre a qual se divisavam abundantes os doirados frutos poupados pela mão do lavrador. As copas, como umbeladas, dos pinheiros mansos, desenhavam nas encostas e iminências fronteiras as mais suaves ondulações. Dispersos aqui e ali, e entremeados com a verdura, grupos de casas campestres, alvejantes à luz do Sol, moinhos e azenhas, noras, toldadas de ramadas cónicas, eiras, pontes rústicas, as mesmas talvez que com mau humor trilhara na véspera, tão sinistras então, como graciosas agora; extensas e virentes campinas e lameiros, onde pastavam numerosas manadas de gado.

Mais longe a igreja com a sua alameda à entrada, e o cemitério, onde um só mausoléu avultava ainda; uma ou outra casa apalaçada, enegrecida pelo tempo; algumas ruínas, consolidadas pelas heras, revestidas de musgos, doiradas de líquenes; finalmente, tudo o que tenta os paisagistas, tudo o que exalta os poetas, tudo quanto suspende os passos ao viajante; e, encobrindo todo o quadro, um tenuíssimo cendal de vapores azulados, dando-lhe a aparência de uma das mimosas composições a pastel da mão de Pillement.

A mudança de aspecto da cena operou não menor mudança nos sentimentos e disposições do enlevado espectador que das varandas de Alvapenha a estava observando.

- É preciso sair! É preciso sair! - disse Henrique consigo. - Quero ver isto de perto; quero entranhar-me nestes bosques, quero trepar por aqueles montes, debruçar-me daquelas ribanceiras.





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