A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 23: XXIII Pág. 369 / 508

.. que sentíamos um pelo outro, digamos assim.

- Mas...

- Vamos, vamos... eu sei que é discreto; nem esta era ocasião para entrar em confidências. Tratemos do que mais importa... Não sei como é que iria jurar agora a sua inocência em toda esta desastrada intriga, e com o tempo... porque francamente lhe declaro que me é necessário algum tempo para desvanecer em mim todos os restos de despeito e de... paixão... porém, com o tempo, talvez venha a ser seu verdadeiro amigo... sem a menor prevenção.

E, depois de um momento de silêncio, prosseguiu, mudando de tom:

- Mas, com os diabos, sendo o senhor inocente, deve ter grandes inimigos aqui na terra para o enredarem assim! É preciso esclarecer isto.

- Inimigos?!... Não os conheço, nem vejo motivos... - disse Augusto, pensativo. Mas, de repente, como se lhe acudisse um pensamento luminoso, fez um gesto que Henrique percebeu.

- Que é? - perguntou este logo. - Descobriu?... Diga... Uma suspeita é já um rasto precioso... guia os primeiros passos... Diga... E eu o ajudarei a segui-lo.

- Lembro-me agora de uma notável visita, que há dias recebi. É isso...

E Augusto contou toda a entrevista que tivera com o Brasileiro.

- E inda agora se lembra dele? - exclamou Henrique, ao ouvi- -lo - e inda hesita?! O senhor é de uma boa-fé!... Temos o fio!

- Mas como pôde ele...?

- Isso depois; o mais virá a seu tempo. Agora trata-se de vigiar esse senhor... E agora me lembra; ele é um dos oradores do clube do Canada... Sondarei esse antro tenebroso... Eu já devia supor que andava aqui miséria política... Estou a achar razão àquela adorável Madalena... Perdão... inda não perdi o hábito de a adorar... Também, desde que o consiga, serei seu amigo sem restrições. Até lá, porém, não será isso motivo para de corpo e alma me não dedicar à sua causa.





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