A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 3: III Pág. 37 / 508

Henrique, desta vez, falou tanto como elas.

Ouvia-as já com mais atenção e respondia-lhes com mais vontade e paciência.

Falaram em muitas coisas.

A tia deu parte ao sobrinho de que várias pessoas da vizinhança, sabendo-o chegado, lhe tinham já mandado presentes de galinhas, oferecendo-se, ao mesmo tempo, para lhe mostrarem as raridades da terra; disse mais que as senhoras da quinta do Mosteiro também tinham já mandado saber dele, Henrique, e lembrou que seria delicado ir visitá-las aquela manhã.

Henrique concordou em tudo, quase sem reparar em quê, e, terminando o almoço, apressou-se a sair para o campo.

- E se te perdes, menino? - lembrou a tia.

- Se me perder, farei por achar-me.

Riram-se muito as boas mulheres e deixaram-no ir.

Dentro em pouco, Henrique atravessava a quinta, que também então lhe pareceu graciosa, de uma graça bucólica, a que não estava habituado. O aspecto melancólico da véspera desvanecera- -se. Até, para ser completa a mudança, estavam encadeados nas casotas o Lobo e o Tirano, cujas boas graças contudo procurou conquistar, atirando-lhes biscoitos.

Foi um passeio delicioso o que ele deu. Tudo quanto via era novidade, tudo lhe cativava a atenção e o distraía dos seus lúgubres pensamentos.

Depois de muito andar, de subir colinas, de descer vales e costear ribeiros, foi sair a um pequeno largo, no fim do qual havia uma casa térrea, caiada de branco, com portas verdes e janelas envidraçadas, sendo os vidros em alguns dos caixilhos substituídos por papel. À porta desta casa estava muita gente parada: mulheres, velhos, moços, crianças, uns sentados, outros deitados, outros a pé e encostados à ombreira e todos aparentemente aguardando alguma coisa ou alguém do lado de uma das ruas, que vinha terminar no largo, e para a qual se dirigiam todos os olhares.





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