A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 28: XXVIII Pág. 429 / 508

a habilidade, com as suas meias palavras, e reticências indiscretamente discretas, de arranjar as coisas de maneira que o velho Vicente chegou a persuadir- se de que havia aqui um romance em que entrava eu... A discrição do Torcato é das que respeitam os nomes, de maneira que as honras da aventura foram-me todas atribuídas... Neste mesmo romance parece que entrava também o primo Henrique...

- Ah! Percebo agora - disse Henrique, rindo. - O velho é ciumento por procuração.

Madalena abanou a cabeça, sorrindo também.

Cristina, que já estava habilitada para entender a alusão de Henrique, sorriu com eles.

O Torcato foi o único que nada percebeu.

Eram perto de duas horas, quando a Morgadinha lembrou a necessidade de voltarem a casa.

- Choverá? - perguntou a Brízida.

- Julgo que não - respondeu Madalena, e, como para assegurar- se, correu a vidraça da janela e examinou o firmamento.

Henrique acompanhou-a.

- A noite está serena - disse ela. - São horas de voltarmos.

- Mal sabe a tia D. Vitória por onde lhe anda parte da família a estas horas - dizia Henrique, debruçando-se à janela, e continuou:

- Mas que agradável noite! Não poder prolongá-la por toda a eternidade!

- Vamos, vamos - respondeu Madalena - o dia de amanhã deve ser mais feliz ainda, porque... Nisto, como se alguma coisa tivesse observado na rua que lhe atraísse a atenção, calou-se, mal podendo reter um leve grito.

- Que foi? - perguntou Henrique, que o percebeu.

- Nada - respondeu ela, correndo a vidraça e afastando-se da janela.

- Viu a alma da morgada? - perguntou jovialmente Henrique, vendo-a preocupada.

- Não - respondeu Madalena, meio a sorrir e meio séria. - Pode, porém, haver aparições piores.

- Que é, Lena? Que viste tu? - perguntou Cristina, assustada.





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