A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 31: XXXII Pág. 483 / 508

Augusto? Tenho um secreto pressentimento a dizer-me que, apesar dessa descrença, apesar dessa carta e apesar de estar por minutos o momento da partida, não só não partirá, mas até há-de tomar parte na nossa primeira festa de família, a do próximo casamento de Cristina.

Estas últimas palavras fizeram impressão em Augusto, que instintivamente repetiu:

- Do próximo casamento de Cristina?!

- Pois não sabia que Cristina vai casar? - perguntou Madalena com a maior naturalidade, mas fitando os olhos em Augusto.

- É verdade, o Sr. Henrique de Souselas teve pressa de legitimar o título de primos, com que arbitrariamente nos tratávamos.

Augusto olhou para Madalena, com indefinível expressão, dizendo:

- Quê?... Pois é com Cristina... pois Henrique vai casar com...

Só depois de lhe romperem dos lábios estas palavras, é que, reconhecendo a indiscrição da sua surpresa, acrescentou com mal simulada indiferença:

- Ah! Não sabia!

- Deveras? Pois não tinha ouvido falar deste casamento? Ou... querem ver que supunha também que era eu a que me casava?... Digo isto, porque o Cancela também estava na mesma crença. Parece que correu essa voz na aldeia. Estes boatos!... E acham logo quem se fie neles! E, mudando de inflexão, prosseguiu:

- São dois noivos exemplares, Henrique e Cristina, perdidos um por o outro. Cristina, com a sua timidez, exerce um forte império sobre aquele incorrigível da capital. Mas para isso foi preciso encontrá-lo doente. Tenho orgulho de ser eu a primeira a legitimar, de alguma maneira, aquela simpatia. Foram singulares as circunstâncias em que isto se efectuou. Eu lhe conto. Foi de noite, e noite de chuva, na capela-mor da minha propriedade dos Canaviais, onde Cristina fora rezar, pela saúde de Henrique,





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