A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 32: XXXIII Pág. 499 / 508

O conselheiro continuava silencioso, como hesitando no que devesse responder a Augusto. A irritação ditava-lhe uma violenta resposta, mas já lho não permitia a consciência.

Augusto continuou:

- Sei que V. Ex.ª está já convencido de que as suspeitas que pesavam sobre mim eram injustas. Nesse periódico, que ainda tem na mão, vêm as provas da minha inocência. Vi-o em casa do Seabra, donde venho agora. Procurei-o, decidido a saber toda a verdade por qualquer preço que fosse; ele não ma negou; contou-me tudo. Por isso, ao vir aqui, Sr. Conselheiro, ao voltar a esta casa, onde era recebido como amigo antes que me expulsassem dela como infame, esperava encontrar a receber-me a justiça e a amizade... Enganei-me; em vez delas, foi o insulto, mais pungente e menos justificado do que o primeiro, que eu encontrei!

- Menos justificado? - repetiu o conselheiro, azedamente.

- Menos justificado, sim, muito menos; porque V. Ex.ª podia julgar-me criminoso; pode julgar-se com direito de duvidar de mim, mas não tem o de duvidar de sua filha; porque a Sr.ª D. Madalena, pedindo a seu irmão que a acompanhasse a casa de um pobre, que ela sabia ser vítima de uma imerecida acusação, e a quem o desalento e o desespero faziam sucumbir, não se esqueceu do que devia a si e aos seus; pelo contrário, aos seus devia aquele acto de sublime generosidade, porque das mãos dos seus viera o golpe que me ferira. Eu tinha sido expulso desta casa, Sr. Conselheiro, como um miserável e infame; os filhos de V. Ex.ª, que sempre foram meus amigos, a quem V. Ex.ª ensinara a sê-lo, vieram à minha dizer-me: «Não parta, deve à nossa confiança a justiça de ficar».

- É verdade - disse Ângelo - eu acompanhei Madalena. O pai diz-me muitas vezes que não tenha pressa de principiar a duvidar; eu não podia principiar por Augusto.





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