A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 4: IV Pág. 63 / 508

Veremos se tens juízo para brincares com ela. É assim que eu quero que aprendas os deveres de mãe, que é a verdadeira ciência apropriada a mulheres. E o que é certo é que eu, dissipado o desgosto dos primeiros momentos, porque o tive, confesso, costumei-me a querer àquela pobre criança, fui avara das suas carícias, troquei por ela todos os meus brinquedos, e senti-lhe do coração a morte, quando, um ano depois, ela me expirou nos braços. Quando fui para Lisboa, já ia educada para amar crianças.

Madalena contara tudo isto naturalmente, sem a menor afectação, sem deixar até de atender aos primos, o que aumentava o interesse com que a escutava Henrique.

- E assim fica sabendo quem é a Morgadinha dos Canaviais - concluiu ela, desatando o babeiro das crianças, que tinham terminado o lunch.

- É verdade, mas donde lhe vem esse título singular, prima Madalena? - perguntou Henrique, tomando ao colo uma das crianças, que a Morgadinha pousou no chão.

- É que eu sou realmente a Morgadinha dos Canaviais. Quero dizer, minha madrinha vivia na quinta dos Canaviais, uma quinta que fica daqui perto. Era uma senhora velha, rica, elegante e muito caprichosa; chamavam-lhe todos a Morgada dos Canaviais. Tomou- -me ela afeição, e, sempre que passeasse, me havia de levar consigo; daí começaram a chamar-me, de pequena, a Morgadinha. Quando ela morreu, deixou-me tudo quanto possuía; nesse legado entrava a quinta dos Canaviais, de que sou proprietária ainda. Foi uma como confirmação do título, que já desde criança me tinham dado; e para todos sou aqui a Morgadinha, título na verdade pouco elegante e que tão mau conceito fez conceber ao primo Henrique da possuidora dele.

- Retrato-me, prima Madalena; agora que sei a pessoa a quem ele pertence, parece-me outro.





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