A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 1: I Pág. 9 / 508

É ali logo adiante - respondeu o almocreve, sem se alterar. - Vê aquela capelinha branca em cima daquele monte? Pois fica já para além da povoação. É a ermida da Senhora da Saúde. É um instante.

- Desde as duas horas da tarde que me dizes que é um instante, e eu estou acreditando que cada vez nos afastamos mais.

Pois, se a aldeia fica ali em baixo, para que diabo subimos nós? Às voltas que temos dado, estou persuadido de que vamos tão adiantados como quando principiámos a subir.

- Pois olha que dúvida! Se se fosse a direito lá por baixo, era mais perto, mas...

- Mas foi então pelo prazer de trepar que me trouxeste por aqui?

- Não é isso, patrão; mas bem vê V. S.ª que o caminho lá por baixo é todo cortado por quintas e campos, e é preciso dar tais voltas, que afinal fica mais longe. Depois, com a chuva que tem caído, faz lá ideia de como estão os riachos por lá! Só o esteiro do almargeal é para uma pessoa se afogar. Mas tenha o patrão paciência, que pouco falta agora. Vê V. S.ª aquele tronco de sobreiro que parece, visto daqui, um frade de capuz?

- É ali?

- Não, senhor - disse o homem rindo -; mas vêem-se daquele sítio as primeiras casas da aldeia.

- As primeiras! - murmurou Henrique em tom lastimoso; e penderam-lhe os braços com mais desalento e aumentou-se-lhe a flexão na coluna vertebral.

O almocreve prosseguiu para o distrair:

- Tenho passado por estes sítios muita vez com neve de se cortar à faca e de noite. E olhe que nunca tive medo. Qual história! Medo? Isso sim! E vamos lá! O sítio não é dos mais seguros. Vê o senhor esta cruz preta, aqui à sua mão direita, pregada no tronco desse pinheiro? Pois aí mesmo mataram um homem, que vinha com uns centos de mil réis da feira franca de Viseu, fez pelo S.





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