As Aventuras de Tom Sawyer - Cap. 33: Capítulo 33 Pág. 164 / 174

Quando chegaram àquele lugar, Tom sentiu um arrepio. Mostrou a Huck um bocado de pavio pegado à rocha e contou-lhe como ele e Becky tinham assistido à luta da chama até se extinguir. Com o espírito opresso começaram a falar, em segredo.

Continuaram a caminhar e, passados instantes, entraram noutra galeria, que conduzia ao lugar do «despenhadeiro». À luz das velas viram então que não se tratava realmente de um precipício, mas que estavam na parte superior dum monte de gesso cujo declive era íngreme e tinha cerca de seis metros de alto. Tom levantou a vela e segredou:

- Agora vou mostrar-te uma coisa, Huck. Para lá do canto, olha para o mais longe que possas. Vês o que ali está? Na rocha, lá em cima, feita com fumo de vela.

- Tom, é uma cruz!

- Aqui está o nosso n.º 2. «Por baixo da cruz», hein? E mesmo no sítio em que vi Injun Joe com a vela na mão.

Huck olhou para o sinal místico e disse, com a voz a tremer: - Vamo-nos embora daqui, Tom.

- O quê? Ir embora daqui e deixar o tesouro?

- Sim, deixa tudo. O fantasma de Injun Joe deve andar por aqui.

- Não anda, Huck, não anda. Deve andar no lugar onde morreu, lá em cima, na entrada da gruta, a cinco milhas daqui.

- Não, Tom. Há-de andar à volta do dinheiro. Sei perfeitamente o costume dos fantasmas, e tu também.

Tom começou a recear que o amigo tivesse razão mas, de súbito, veio-lhe à ideia uma coisa.

- Olha lá, Huck. Que palermas que nós somos! Com certeza que o fantasma de Injun Joe não anda à volta de um lugar onde há uma cruz.

O caso era muito para considerar, e a frase teve o efeito desejado.

- Não me tinha lembrado disso, Tom, mas tens razão'. Para nós é uma sorte estar aqui esta cruz. Parece-me que o melhor que temos a fazer é descer e procurar a caixa.

Tom desceu primeiro, caminhando com dificuldade, pelo gesso. Huck seguiu-o. Da pequena caverna para onde dava a rocha enorme, partiam quatro corredores. Os rapazes examinaram três sem resultado, mas no último acharam, junto da base da rocha, uma pequena reentrância com um catre tapado com cobertores, uns suspensórios velhos, um bocado de toucinho e ossos de duas ou três aves, mas não viram a caixa. Procuraram, tornaram a procurar, mas tudo foi em vão. Então, Tom lembrou-se:

- Eles disseram por baixo da cruz, e este lugar fica, na verdade, por baixo da cruz. Por baixo da rocha não será, porque me parece bastante firme.





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