As Aventuras de Tom Sawyer - Cap. 11: Capítulo 11 Pág. 59 / 174

No seu íntimo, resolveram vigiá-lo de noite, sempre que tivessem ocasião, na esperança de avistarem o seu terrível senhor.

Injun Joe ajudou a levantar o corpo da vítima e a pô-lo numa carreta para o levarem dali, e entre a multidão segredou-se que a ferida tinha sangrado um pouco. Os rapazes imaginaram que isto ia indicar a verdadeira pista, mas ouviram dizer, com certo desapontamento, a mais de um aldeão, que o corpo estava nessa ocasião a menos de um metro de Muff Potter.

O terrível segredo de Tom e a sua consciência atribulada fizeram-no passar mal as noites durante mais de uma semana que se seguiu a isto. Certa manhã, ao primeiro-almoço, Sid disse:

- Dás tantos pinotes na cama e falas tanto a dormir que me obrigas a ficar acordado parte do tempo.

Tom empalideceu e baixou os olhos.

- Isto, é mau sinal - disse a tia Polly muito a sério. - O que te preocupa assim, Tom?

- Nada. Que eu saiba, nada.

No entanto, a mão do rapaz tremia de tal modo que entornou o café.

- E que coisas dizes! - continuou Sid. - A noite passada gritaste: «É sangue! É sangue! É o que é!» Repetiste isto não sei quantas vezes e depois pediste: «Não me atormentem! Não me atormentem, que eu digo.» Dizes o quê? O que é que tu dizes?

Tom via tudo andar à roda. Não sabia bem o que ia acontecer, mas felizmente a expressão da tia Polly desanuviou-se e, sem o saber, veio em auxílio de Tom, dizendo:

-Tudo por causa daquele crime terrível! Sonho com isso quase todas as noites. Já por mais de uma vez tenho sonhado que fui eu que o cometi.

Mary disse que também tinha estado muito impressionada e tudo isto pareceu satisfazer a curiosidade de Sido

Tom saiu dali o mais depressa que pôde, e, desde então, queixando-se de dores de dentes, passou a atar os queixos todas as noites antes de se deitar. Mal sabia que Sid o vigiava de noite, muitas vezes lhe desatava o lenço, ficando a escutá-lo soerguido sobre o cotovelo, e depois lho tornava a atar.

Pouco a pouco as preocupações de Tom foram diminuindo, a dor de dentes tornou-se maçadora e ele desistiu; mas se alguma vez Sid chegou a tirar conclusões das palavras que o irmão murmurava de noite em sonhos, nunca o disse a ninguém.

Parecia a Tom que os seus companheiros de escola não estavam dispostos a acabar nunca mais com inquéritos acerca de gatos mortos, que lhe não deixavam esquecer aquela terrível noite.





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