Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 7: VII

Página 100
.. assim mais científico? Eu se fosse bispo... A caudalosa corrente deste solilóquio foi interrompida pela aparição de nova personagem à porta do quintal.

- Deixe estar, meu padrinho, deixe estar; tenha um bocadinho de paciência. É um instante enquanto acendo o lume e lhe faço o caldo. Verá.

A pessoa que assim falava ao entrar para a cozinha era uma rapariga de doze anos, alva e franzina, como a mais delicada criança da cidade, com os olhos negros e expressivos de inteligência e de doçura, e com os mais formosos cabelos louros que ainda enfeitaram uma cabeça infantil. Não havia neles sombra que desvanecesse aquela cor deslumbrante; reflectia-se-lhes a luz nas ondas, naturalmente lustrosas, como em tenuíssimos fios de metal; usava- -os soltos e caídos, sem vislumbre de artifício, de um e de outro lado do colo.

Condizia com a expressão angélica do semblante o suave e afectuoso timbre de voz com que falara.

O leitor prevê decerto que é Ermelinda, a filha do Cancela, ou Lindita, como geralmente na aldeia lhe chamavam, a criança que tem na sua presença.

Ermelinda sobraçava um molho de hortaliça, que fora colher ao quintal, e dirigia-se com ela para o lar, que o descuido e a indiferença conjugal deixavam ainda apagado àquela hora do dia.

Dando, porém, com os olhos em Augusto, parou, sorrindo-lhe.

- Ai, pois estava aí, Sr. Augusto!? E o meu padrinho talvez sem reparar.

A estas palavras o desditoso marido voltou a cabeça e fitou em Augusto um dos seus desemparelhados olhos.

Olá, Sr. Augusto! Viva! Passe muito bem! Entre; esta casa é sua... De jantar não lhe ofereço... porque... porque... Forte desgraça a minha... Olhe! Repare para este desaforo!... Venho para casa, morto de trabalho... e vejo o lar apagado! A minha mulher está a ouvir missa, a confessar-se, a comungar.

<< Página Anterior

pág. 100 (Capítulo 7)

Página Seguinte >>

Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 100

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506