A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 8: VIII Pág. 120 / 508

Está um tempo muito bonito; nem parece Dezembro.

- Não; vai magnífico para os nabais - replicou Madalena zombeteiramente.

- Se não mudar com a nova lua - continuou Cristina, ainda formalizada.

- É excelente para secar os milhos, que bem precisavam ainda disso, principalmente os das terras baixas.

E, acabando de dizer estas palavras, a Morgadinha desatou a rir.

- Não sei de que te ris? - acudiu Cristina, cada vez mais séria. - Pois não é esta a conversa de que tu gostas?

- Ai, muito. Eu sou doida por estas coisas de lavoura; bem sabes. - E, mudando repentinamente de tom, acrescentou: - Ora vamos, Criste; não te zangues comigo.

- Não, mas é que às vezes não te entendo, a falar verdade.

Vens com umas coisas que metem raiva - respondeu-lhe Cristina, sempre agastada.

- Já estou arrependida; peço perdão. Fala lá à tua vontade no primo Henrique, fala; que eu não contarei as vezes que o fizeres.

Cristina reproduziu o gesto de impaciência.

- Agradeço a tua generosidade, mas já não tenho mais que dizer dele agora; por isso...

- Pelo menos completa a dúzia.

- Lena! Então! Olha que, se continuas com isso, fazes-me sair daqui.

- Sempre queria que te vissem agora, Criste, esses que andam por aí a gabar a docilidade do teu génio, as branduras da tua índole; queria que te vissem essa cara de arrenegada, para saberem que também há um acidozinho na tal doçura... Mas fazes-me a graça de só para mim teres dessas franquezas.

Cristina sorriu, ainda que não de todo aplacada, ao ouvir esta reflexão da prima.

- E não sabes a razão disso? - respondeu-lhe ela. - A razão é o génio que tens, Lena. O teu gosto é mortificares uma pessoa. Não há santo que não perdesse a paciência contigo.

- Que injustiça! Que ingratidão!





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