E, momentos depois, saíram juntos.
Querendo poupar os leitores à sensaboria de assistir a uma lição de latim e a um ensaio da filarmónica, deixá-los-emos ambos, para voltarmos ao Mosteiro.
Ao fim da tarde, depois do jantar, estavam as duas primas sentadas ao parapeito do muro da quinta, donde, por sobre almargens e pomares vizinhos, a vista se espraiava em amplíssimo horizonte até umas nuvens, que pareciam limitá-lo.
D. Vitória saboreava, no seu quarto, as delícias da sesta habitual.
As crianças brincavam a alguma distância, e os risos e os clamores delas vinham como um chilrear de pássaros aos ouvidos das duas raparigas, que, a cada momento, se surpreendiam em meditativo silêncio.
A natureza estava sereníssima. No ocidente desenhavam-se estreitos e longos traços nebulosos, a que o Sol dava um colorido tão ardente, que, se um pintor paisagista o produzisse na paleta, hesitaria, ao passá-lo à tela, com receio de que o acoimassem de exagerado. O verde dos campos apresentava a gradação vigorosa que a luz de um formoso dia de Inverno costumava dar-lhe.
Cristina interrompeu o silêncio por fim.
- O que eu não sei - principiou ela - é como o primo Henrique de Souselas...
- Onze! - atalhou a Morgadinha, sem desviar os olhos do ponto da perspectiva, que fitava.
- Onze quê? - perguntou Cristina, erguendo os dela.
- Com esta são onze as vezes que, esta tarde, depois de um longo silêncio, abres a boca para me falares do primo Henrique de Souselas, uma vez que está decidido que seja primo.
Cristina fez um gesto de despeito e corou levemente.
- E então que queres tu dizer com isso?
- Eu? Nada. Digo só que são onze vezes com esta.
- Não sabia que era proibido falar-te no primo Henrique. Bem, nesse caso falaremos em outra coisa.