- Suspeitas! Que suspeitas?...
- O primo Henrique de Souselas deixou em ti uma tal ou qual impressão.
- Lena!
- Conheci isso, ainda quando ele cá estava; verifiquei-o depois e agora. Então! tem juízo. Comigo sê sempre o que tens sido. Eu gozo há muito do privilégio de conversar à vontade contigo e de te ver sem aquela timidez que tens diante dos outros. Com o teu génio, precisas de uma pessoa como eu, com quem não tenhas acanhamento e em quem possas até descarregar algumas maldadezitas; e acredita que me lisonjeio com me dares a preferência.
- Mas como imaginaste?...
- Continuas? Não tens de que te envergonhar pelo interesse que porventura te inspirou esse rapaz. Henrique de Souselas é elegante, é espirituoso, afável, possui uma inteligência cultivada e muito trato do Mundo...
- Mas...
- Faça favor de me ouvir - atalhou Madalena, pondo um dedo nos lábios. - Reconhecendo todas estas qualidades naquele nosso primo, não quero por isso concluir que seja natural e prudente denunciares-te já. E nem receio que isso aconteça, para te falar sinceramente, porque te conheço o génio tímido e porque... porque te conheço o génio tímido e mais nada.
Havia mais alguma coisa, havia, mas não era coisa que se dissesse.
Madalena sabia de mais que Henrique não saíra daquela primeira visita demasiado impressionado por a imagem de Cristina; sabia talvez, suspeitava decerto, não me atrevo a dizer que lisonjeada algum tanto, que no coração do hóspede de Alvapenha reinava outra imagem mais persistente. Mas vejam as leitoras se, sendo este o seu pensamento, ela o poderia formular. O remédio pois era completar a frase como a completou.
Cristina já não tinha ousadia para negar, nem ainda coragem para confessar. Encostando a face à mão, calou-se e deixou falar Madalena.