na chuva, no Inverno e no Verão, nos prós e contras da vida do campo e de vários outros assuntos secos de si e já, além disso, muito esgotados, e tudo cortado por aquelas pausas e silêncios constrangidos e insuportáveis que o leitor há-de conhecer por experiência.
Digamos nós a verdade: estes dois homens não sentiam um pelo outro aquela súbita e inexplicável simpatia que abre os corações e dá margens a confidências.
Nos dois curtos encontros que tinham tido, manifestara-se entre eles certa frieza mais que cerimoniática, uma quase desconfiança instintiva.
Chegaram as senhoras. Foram acolhidas com prazer por ambos.
Ainda quando não fossem senhoras, o seriam; a chegada de um terceiro, quando dois indiferentes estão na presença um do outro, em entrevista forçada e fatigadora, é sempre saudada interiormente como uma redenção.
Madalena e Cristina vinham ambas formosas, com a espécie de mantilhas ou capuzes de que usavam, adequados aos rigores de uma manhã de Dezembro.
Apareceram ambas a rir. Foi o caso que, passando próximo do quarto de D. Vitória, pé ante pé, para não a acordarem, esta pressentiu- as, e, mesmo do leito, perguntou-lhes:
- Então já vão, meninas?
- Vamos, tia; vamos, mamã - responderam as duas ao mesmo tempo.
- O Luís já partiu com o almoço?
- Já partiu, já, minha senhora.
- E ides agasalhadas?
- Como se fôssemos para a Sibéria - respondeu Madalena.
- Olhai, sempre levem os guarda-chuvas por cautela. E ide com Nossa Senhora.
- Cá os levamos. Adeus, tia; adeus, mamã.
- Adeus, filhas; até logo, se Deus quiser. Olhai lá, não vos estafeis.
Ora os tais guarda-chuvas é que não iam. Para quê? Com uma manhã daquelas, que nem de Inverno parecia, pois que até o frio abrandara com o vento! Por isso é que vinham ainda a rir.