Augusto ergueu-se da mesa e foi passear para a alameda.
- Da aldeia não, diz a prima; e porque não? Com esta natureza é fácil criarem-se os poetas. Eu estou vendo nesta quadra a folha solta de um romance. Aqui a serra de algum Bernardim inédito, tão capaz de escrever de saudades, como de as sentir. Os lares, pela sombra dos quais o olhar do poeta trocava os esplendores do Céu..., algumas dessas casas, que aí se vêem em baixo. Quem sabe se não será até o Mosteiro? Eu, por mim, confesso que, se estivesse hoje aqui só, ou em outra companhia - acrescentou, olhando significativamente para a Morgadinha - não teria dúvida em subscrever esta quadra, como a exacta expressão do meu sentir, porque... Em vez de erguer os olhares À luz deste firmamento, Eu também... Os abaixaria aos lares Onde tenho o pensamento.
Cristina levantou-se também da mesa e foi ter com Augusto à alameda.
Madalena, que a seguiu com a vista, não disfarçou um gesto de despeito ao ficar só com Henrique.
- Prima Madalena - disse em tom mais afectuoso Henrique, passado tempo, e depois de mais algumas palavras -, deixe-me falar-lhe com franqueza, agora que estamos sós. Conhecemo-nos há dois dias; eu, porém, sinto-me tão seguro já do que lhe vou dizer, que não hesito. Não pode imaginar a indelével recordação que me ficará desta manhã.
- Perdão - atalhou Madalena -, diga-me primeiro o que é isso que me vai dizer. Prepara-se para me agradecer o almoço? Eu sou como os reis; gosto de estar prevenida do sentido das felicitações que me dirigem, para ir preparando uma resposta adequada.
- Que prazer tem em ser cruel!
- Deixemo-nos de loucuras - continuou Madalena, séria já. - Quem ouvisse o Sr. Henrique de Souselas havia de supor que se preparava para me fazer uma declaração.