- Vejam que só têm por testemunhas duas mulheres, que mal lhes podem servir de padrinhos, se a contenda tomar outra feição. Por isso não é muito para louvar a escolha que fizeram da ocasião, para uma justa tão pouco... amável.
- Perdão, prima Madalena; reconheço a minha culpa, e a grosseria do meu proceder. Mas aqui o Sr. Augusto, costumado a impor aos discípulos o seu pensamento, quis estender até mim este despotismo de... magíster... Ora o meu pensamento pugnou pela sua independência...
- Desculpe; supondo-o um homem de brio e de pundonor, julguei que me agradeceria se conseguisse modificar-lhe uma opinião desfavorável, que levianamente formou de quem lha não merecia.
Vejo que prefere ser injusto. Seja-o. Pense o que quiser. Mas o que eu não sofro é que se diga diante de mim uma palavra contra um homem que respeito e de quem sou amigo, sem que erga a voz para defendê-lo. Se não costuma fazer o mesmo por os seus, nem sente viva e irresistível a necessidade de o fazer, lastimo-o; é porque os não tem.
- Com mais paz de espírito se discutirá tudo isso depois - disse Madalena. - É de crer que, como sempre, haja de parte a parte razão e agravos. Agora convido-os, antes de descermos, a visitar a ermida, cuja porta está sempre, dia e noite, aberta aos devotos que a piedade aqui traz. E tal é o prestígio que a defende, que não consta de um só roubo sacrílego, que se fizesse nela.
Entraram na ermida. Era um pequeno santuário, todo forrado de azulejo antigo, com enegrecidas pinturas a fresco nos apainelados do tecto, representando episódios da Paixão; os altares, adornados de colunas e florões de talha doirada, atestavam nos muitos ex-votos que neles pendiam e nos quadros, cuja perspectiva deixava a perder de vista a dos desenhos chineses e que representavam milagres de todo o género, a fé ardente com que era adorada a imperfeita escultura da Virgem.