A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 10: X Pág. 153 / 508

O próprio Henrique, que não era o menos embaraçado do rancho, e nem isso admira, só a custo podia prescindir, em certos lances, do auxílio de Augusto.

O amor-próprio e orgulho do hóspede de Alvapenha iam um tanto mortificados nesta retirada inglória. Nenhum dos seus muitos talentos e aptidões, de tanto valor no terreno, também escorregadio, das salas de baile, lhe valiam para ali. Era evidente a sua inferioridade neste momento; ora Henrique não era homem que, tendo consciência disto, ficasse indiferente; mas que remédio! Procuraria mais tarde uma compensação.

Não descrevemos todos os episódios desta laboriosa descida, alguns dos quais somente a preocupação em que iam os ânimos impedia achar risíveis; porém que, mais tarde, deviam, como é costume, vir a ser alimento de animadas e joviais recordações.

Assim foi que, a meio da encosta e em sítio em que lhes cortava ao lado do caminho, que cautelosamente desciam, uma ribanceira quase a pique e eriçada de fragas salientes e ângulos de rocha, em cujas fendas e sinuosidades apenas os tojos e as giestas e algum pinheiro enfezado tinham conseguido vegetar, uma violenta rajada de vento, desprendendo a mantilha de Madalena, depois de a revolutear no espaço, arremessou-a ao abismo.

Ficou suspensa nos espinhos das tojeiras, porém em lugar onde seria difícil o acesso, de qualquer lado que se tentasse.

Madalena, no momento, não pôde reter um grito, que fez parar com terror Henrique e Augusto, que caminhavam adiante. Voltaram-se assustados.

A Morgadinha, com a cabeça descoberta, as tranças ligeiramente desordenadas, as faces um pouco pálidas, sorria já do seu exagerado susto.

A rir, explicou o sucedido, pedindo perdão pelo sobressalto que involuntariamente causara.

- Descansa em paz! - disse ela, olhando para a mantilha; e acrescentou: - Sigamos.





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