A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 10: X Pág. 155 / 508

E a perturbação era tal, que nem acertou com uma frase de agradecimento, com que pagasse a imprudente galanteria, que mais desejava repreender do que recompensar.

Esta reserva ofendeu Henrique; serviços, a seu ver, de menor importância, tinham merecido a Augusto mais calorosas palavras.

Revoltou-o esta ingratidão.

Mal sabia ele que estava sendo ainda mais ingrato, não concedendo sequer um olhar às faces desmaiadas pelo terror, aos lábios trémulos e aos olhos arrasados de lágrimas, com que o fitava Cristina. Ela, que o tinha seguido muda de susto e de ansiedade em toda aquela louca aventura, ela que, ao terror do perigo, juntava a afligi-la o desespero de ver que fora outra a que inspirava aquelas loucuras! Aguardavam-nos em baixo novos trabalhos a vencer. Com a força das enxurradas, que se precipitavam clamorosas pelas vertentes e algares, era provável que a levada que corria na raiz do monte tivesse engrossado mais e acabasse de cobrir a ponte rústica, que à vinda já tinham encontrado quase submersa.

Augusto, prevendo isso, voltou-se para as senhoras, dizendo:

- Eu vou adiante assegurar-me do estado da ponte, para, no caso de estar já coberta, como é provável, ver se o moleiro nos abre a porta do moinho, a fim de passarmos por lá. Vão descendo devagar, que eu volto.

- Então deixa-nos sós? - exclamou Cristina, assustada.

- É um instante.

- Não sei se nos atreveremos a dar um passo sem a sua indicação - disse Madalena.

- O pior está passado. Além daquela pedra já vêem o ribeiro e a ponte; o caminho indica-se por si.

E, dizendo isto, desceu agilmente por uma espécie de escadaria aberta na rocha, a qual mais depressa o devia conduzir ao lugar que demandava.

Henrique ia agora na frente; após, seguia-se Madalena.





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