A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 10: X Pág. 158 / 508

Cedendo a este pensamento, Augusto franqueou, quase de um salto, o espaço que o separava ainda do ribeiro, e lançou-se à água.

Era a vez de Augusto revelar coragem. Henrique também a possuía, mas abusava dela ou, por vaidade, malbaratava-a em ninharias.

Ainda nisto se revelava o seu amor de ostentação. Imaginava- -se sempre num palco, diante de espectadores que o viam e aplaudiriam, se desempenhasse bem o papel de homem perfeito. Fraco perante doenças imaginárias, arriscaria, para evitar o ridículo, a própria vida, assim como sufocaria, porventura, um impulso generoso, que não pudesse harmonizar-se com a convenção, que se chama elegância.

Eram estes os defeitos que Madalena adivinhara nele.

Augusto era diferente.

As suas grandes qualidades guardava-as com modéstia dos olhos estranhos, para somente as revelar, quando pudessem ser úteis.

Ao ver cair a mantilha de Madalena, não arriscou temerariamente a vida para a buscar. Procurava com placidez os meios de o fazer com mais segurança, embora com menos romanticismo; mas, para salvar uma vida, para obedecer a um instinto, verdadeiramente nobre e generoso, nada o fazia recuar.

Logo que Augusto voltou a terra e auxiliou o ervanário a subir para a margem, Madalena, respirando enfim com desafogo, respondeu às anteriores palavras de Henrique, dizendo em suave tom de censura:

- Bem vê que nem sempre é cauteloso o nosso guia, primo Henrique. Sabe também arriscar a vida quando uma razão de humanidade lho pede. A sua imprudência de há pouco... agradeço- -lha, mas... não posso aprová-la. Confesse que não foi tão justificada como esta.

Henrique tinha a razão clara bastante e a consciência justa para ver que, apesar da sua façanha cavalheiresca, ficara, desta vez ainda, inferior ao seu companheiro.





Os capítulos deste livro