Qualquer que fosse o desgosto que a descoberta lhe produzisse, é certo que teve sobre a rebelião dos maus instintos poder suficiente para se obrigar a ir apertar a mão a Augusto.
O velho Vicente estava pálido e extenuado pelo esforço da luta com a corrente; ainda assim abraçou também Augusto, dizendo:
- Agradeço a Deus o haver-me dado esta ocasião de te dever a vida, rapaz. Era um prazer que desejava levar da terra, quando a deixasse.
Madalena e Cristina rodeavam o velho de cuidados.
Apareceram, enfim, do outro lado do ribeiro, os criados enviados por D. Vitória com guarda-chuvas e roupas de agasalho. Com eles vinha também o moleiro, a quem mandaram chamar para dar passagem pelo moinho, visto estar obstruída a ponte, e, ao mesmo tempo, para que as senhoras pudessem aí dentro mudar de fato.
Augusto seguiu o ervanário a casa.
Passada meia hora, saíram também do moinho os outros todos, depois de haverem renovado a roupa, que a chuva repassara.
No Mosteiro, D. Vitória recebeu a filha e a sobrinha com muitas exclamações e ralhos por não terem ido prevenidas com guarda- -chuvas, como ela lhes recomendara; estas iras cedo se derivaram sobre os criados, a quem, entre outros delitos, atribuía o de a não haverem avisado de que, na véspera, passara por ali o caldeireiro ambulante, repenicando nos seus arames, o que, sendo prognóstico infalível de chuva, faria com que ela, sabendo-o, se opusesse a tal passeio.
Em Alvapenha, D. Doroteia e Maria de Jesus não levantaram menor celeuma, ao verem chegar Henrique. Fizeram-no meter na cama, cobriram-no de cobertores, emborcaram-no de punch e tais medos lhe insinuaram que as apreensões patológicas de Henrique agitaram-se e tentaram reapossar-se da sua antiga vítima.