Não tinha cruzes nem cunhos. Ia-me parte da propriedade.
- Ah! ah! ah! Também não gosta? Diga-me disso! - berrou o Sr. Joãozinho.
- Não é não gostar; é que o traçado era péssimo.
- Não sei porquê.
- Só a expropriação da minha quinta por que preço não lhes ficava?
- Eles, para esses casos, lá têm umas leis a seu modo - notou o padre-cura.
- E por onde há-de ir então a estrada?
- O outro traçado, que eu aconselhei ao engenheiro, parte da herdade do capitão-mor, faz um viaduto nos lameiros, atravessa o pinhal do Cónego, passa o rio numa ponte e...
- Oh! com os diabos; o que aí vai!
- Não é tanto como parece; sendo as obras bem dirigidas... Até aos lameiros só tem a deitar abaixo a casa e o quintal do ervanário.
- Deitar abaixo a casa do ervanário! O pobre diabo rebenta de paixão, se tal fazem - disse, com certa comiseração, o Sr. Joãozinho das Perdizes, que tinha por o ervanário uma sincera afeição e respeito, nele excepcional, desde que lhe atribuía a cura de um tifo que o tivera às portas da morte, e de que o velho, dizia ele, o salvara, com uns cozimentos somente dele sabidos.
- Ora adeus! Antes disso morre o homem de doidice. Está maluco de todo - redarguiu o Brasileiro.
- Também está um bom mágico, está - notou o padre.
- Quer não, que sabe mais do que todos os médicos - acudiu o Sr. Joãozinho das Perdizes -; a mim me livrou de uma maligna.
Oh! que excomungada! E principiou a fazer a história da sua doença.
Os lavradores concordaram em que o homem era sabedor; mas atribuíam-lhe mais misteriosa ciência do que a da Medicina.
- Pois é afinal por onde deve ir a estrada - continuou o Brasileiro.
- Tinham ainda o campo dos Brejos do conselheiro, mas nisso não se fala, já se sabe.
- Ora! pois está de ver - concordou o padre.