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Capítulo 13: XIII

Página 193

Fora motivo destas precauções o ter já avistado, por entre os troncos e a rama baixa das laranjeiras, um vulto que se lhe afigurou conhecido.

Assim se foi aproximando sem que o pressentissem e, oculto por detrás de uma sebe de roseiras silvestres, pôs-se à espreita.

Era Ermelinda a pessoa que estava no laranjal.

Sentada sobre o tronco partido de uma laranjeira velha, que meses antes havia sido derrubada, a filha do Cancela e afilhada da família Zé P’reira, tinha todas as faculdades aplicadas à decifração dos hieroglíficos caracteres de um pequeno papel manuscrito, que segurava nas mãos, e lia a meia voz. De quando em quando interrompia a leitura e, erguendo a cabeça para o céu, parecia repetir o que lera, como se pretendesse decorá-lo.

Ângelo aplicou mais o ouvido, a ver se alguma das palavras, que ela declamava, lhe revelava a natureza do manuscrito.

De facto, de uma vez, a pequena leu em voz mais audível, e ele escutou a seguinte quadra:

- Que lamentável tragédia,
Que os meus olhos tristes viram!
E publicam minhas vozes
Àqueles que não ouviram!

E principalmente o rei,
Que se chama o rei tirano,
Nesta região remota
Do Egipto dilatado.

Depois de ler isto, a rapariguita levantou a cabeça e repetiu:

- Que lamentável tragédia, Que meus olhos tristes viram!... Ângelo saiu do esconderijo, e, sempre vagarosamente e com precaução, veio colocar-se por detrás dela, sem que fosse pressentido ainda.

Tão perto chegou, que, por cima do ombro de Ermelinda, podia já ler as quadras que ela estava decorando:

- Tenho mil línguas, mil bocas... - ia Ermelinda continuar a ler, quando uma respiração mais profunda de Ângelo a fez desviar a cabeça.

Dando com os olhos nele, soltou um grito de sobressalto; depois sorriu e instintivamente procurou esconder no bolso do avental o papel que lia.

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pág. 193 (Capítulo 13)

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Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 193

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506