A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 17: XVII Pág. 255 / 508

- Julgo que lhe fez mal o frio da noite de ontem.

- É verdade, até está falta de cor! Ora queira Deus que não seja coisa de cuidado. Dói-te alguma coisa, menina? - perguntou D. Vitória apreensiva.

- Não, mamã - respondeu Cristina.

- Ó meninas, vocês também são umas desacauteladas. Eu bem te disse ontem, Criste, que levasses mais roupa. Tudo é não faz mal, tudo é não tem dúvida, e depois é que vem o queixar-se.

Isto disse a senhora de Alvapenha e muitas coisas mais neste sentido. Estas reflexões fizeram Henrique desviar os olhos para a pessoa que era objecto delas.

Cristina estava efectivamente pálida e pensativa; e desta cor e desta expressão recebia uns ares de poesia melancólica, que a tornava mais graciosa.

Henrique notou pela primeira vez a beleza desta criança, em que mal fixara a atenção até ali, e pela primeira vez se demorou a observá-la com alguma insistência.

- É interessante esta pequenita - pensava ele consigo.

Cristina ia a levantar os olhos para responder a D. Doroteia, quando encontrou os de Henrique a fitá-la. Assomou-lhe então às faces um mal pronunciado rubor, a palavra resolveu-se num sorriso, e os olhos baixaram-se de novo.

- Há-de ser adorável esta mulher - pensou desta vez Henrique, vendo-a sob novo aspecto.

O conselheiro disse, sorrindo:

- Ora que estão a dizer? A Criste até está com umas cores muito bonitas. Triste? Melancolias dos dezoito anos nunca me deram cuidados. Provavelmente está agora nalgum episódio sentimental do romance da sua imaginação. Não sondemos aqueles mistérios, mana. Já não é para nós compreendê-los, prima Doroteia.

Todos riram do dito do conselheiro, o que redobrou o enleio de Cristina.

A Morgadinha, a quem não passara despercebida a impressão, que a prima desta vez parecia ter causado a Henrique, quis aproveitar o ensejo que havia tanto procurava, e para isso propôs que se desse uma volta pela aldeia antes da missa do dia.





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