Se então encontrar um desconfortado como eu, peço-lhe que tenha misericórdia dele e o salve do desalento, em atenção a quem a conheceu numa época, em que só podia ver em si, priminha, a aurora de uma esperança que já não tinha de luzir para ele.
- Mas... salvá-lo!... Como salvá-lo?...
- Como as mulheres salvam; amando.
- Bem digo eu que está a gracejar - balbuciou Cristina, com voz trémula.
- Tem o defeito da inocência - disse Henrique para si. - Não se lhe tira uma resposta de jeito.
Nisto chegaram defronte da porta, por onde Madalena tinha saído da quinta na noite passada.
- Agora deixo-os por aqui - disse o conselheiro. - Irei encontrá-los à igreja. Vou arrostar com a fera silvestre ao próprio covil.
- Meu pai, lembre-se do que lhe recomendei - disse Madalena.
- Sossega, filha; serei de cera. Até logo.
- Até logo.
E o conselheiro tomou a direcção da casa do ervanário.
- Era tempo! - disse Henrique consigo. - A minha eloquência arrefecia na proximidade deste gelo.
A Morgadinha havia quase adivinhado tudo: estudando as fisionomias de Cristina e de Henrique, conheceu que se não haviam entendido os anjos.
- Ainda não! - murmurou ela. - Pobre Criste! Como se deve estar odiando a si mesma! Como há-de esta criança vencer este obstinado? Mas não perco ainda as esperanças.
Henrique, na presença destes sítios, recordou-se da cena da véspera e tentou outra vez experimentar Madalena.
- Esta porta é da quinta do Mosteiro, não é, prima?
- É - respondeu Madalena, imperturbável; e voltando-se para Ângelo: - O que te faz lembrar esta porta, Ângelo? - perguntou ela.
- Que muitas vezes por aqui saíamos, eu e vós ambas, já de noite, e sem a tia saber, para irmos ter com o Tio Vicente, que voltava da caça das borboletas.