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Capítulo 18: XVIII

Página 286

Depois que ela terminou, persistiu por algum tempo o silêncio, sem que os espectadores pudessem voltar logo a si, nem os actores se lembrassem de continuar o auto. Henrique foi quem primeiro rompeu este quase encantamento. Profundamente impressionado também por aquela cena, exprimiu num «bravo» todo o entusiasmo que sentia. Foi o sinal.

O silêncio degenerou na mais altíssima ovação.

O Herodes esqueceu o papel que desempenhava, o carácter que tinha a sustentar, a lógica da situação, e, tomando nos braços musculosos o corpo débil e franzino da filha, levou-a em triunfo para a beira do palco; os outros actores disputavam-lha; do pátio estendiam-se centenas de braços para a receberem; das janelas do Mosteiro acenavam- lhe, vitoriando-a, os lenços das senhoras; os homens aplaudiam- na com palmas. Herodes parecia devorar a filha com beijos, afogá-la com lágrimas de entusiasmo e de paixão; e Ermelinda foi de braços em braços, entre beijos e afagos, transportada do tablado para a sala do Mosteiro, onde não foi menos calorosa a recepção.

Do auto ninguém mais se lembrou, e, apesar dos esforços do mestre Pertunhas, todos o deram por terminado ali e prescindiram de ver as restantes cenas, com grande desgosto dos actores que entravam nelas.

O Herodes, ainda vestido de rei, andava como doido pelas salas do Mosteiro. Seria para rir aquele entusiasmo, se não fosse bastante patético para comover.

- Mas como foi isto, meu Deus? Como foi isto? Que milagre foi este? Ai que versos, Maria Santíssima! Que versos! E como ela os dizia! - exclamava ele, quase convencido da milagrosa natureza da cena que vira.

Madalena, chamando Ângelo de lado, perguntou-lhe:

- Foi Augusto que fez aqueles versos?

Ângelo sorriu.

- Porque me perguntas isso, a mim?

- Porque o deves saber.

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pág. 286 (Capítulo 18)

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Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 286

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506