Ali um grupo de mulheres, de joelhos, escutavam a leitura de pias orações, que uma fazia em tom lutuoso, e respondiam em coro com Padre-Nossos e Ave-Marias; além viam-se outras com as faces rojadas no chão, batendo no peito e desentranhando exclamações, para comoverem a Divindade; outras em êxtase, como Santas Teresas, de braços abertos diante da imagem da Virgem; outras amortalhadas, em cumprimento de promessa feita a algum santo. Cavados na espessura das paredes havia uns pequenos cubículos, que serviam de confessionário. Às portas destes nichos, munidas de um crivo de folha, aderiam, como as lapas nos rochedos, os vultos escuros das penitentes, fazendo para dentro a circunstanciada exposição dos pecados da semana, e recebendo de lá regras de bem viver, preceitos de devoção, às vezes exagerada e inspirada de certa moral de convenção, com que a ignorância ou a má-fé porfiam em falsificar os simples e luminosos ditames da moral, que a consciência reconhece e que o Evangelho apregoa.
Às vezes despegava daquele crivo de pecados uma das confessadas; e, exausta de forças, abatida de ânimo, descrendo da misericórdia divina, ia cair com desalento nos degraus do altar de Deus, que o fanatismo cego, se não hipócrita, lhe pintara inexorável verdugo.
Quando outra se não sucedia a esta, via-se rodar nos gonzos a pequena porta destes cubículos, e sair de lá um padre de batina, socos e capote de cabeção, satisfeito de si e revendo-se naqueles corpos prostrados, naqueles gemidos surdos, naquelas lágrimas humedecendo o pavimento do templo, tristes indícios de desalento moral, com que conseguira quebrantar os ingénuos espíritos que dirigia pela intimidação cruel.
De tudo isto vinha o aspecto sombrio e lúgubre à igreja, que nem as luzes dos altares, nem as sanefas e cortinas de damasco, que com tanta arte dispusera mestre Pertunhas, conseguiam dissipar.