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Capítulo 19: XIX

Página 305
Sabem-no os especuladores políticos, que tanto se esforçam por simulá-la, quando precisam do povo.

- Quem foi que atirou a pedra? - perguntou um.

- Temos tolice!

- Nada de pedras, olá!

- Então isto é coisa de garotos! Estava a quebrar-se a fúria da onda popular. Os que antes gritavam «morras» achavam já repreensível a primeira tentativa de lapidação. E contudo era a pedra a arma mais pronta para executar a sentença. Era evidente que o maior perigo passara e que um pouco de prudência resolveria a crise.

O pior era que Henrique possuía em pequeno grau essa qualidade, e, irritado pelo insulto, ia cometer talvez um acto irreflectido, apesar dos esforços de Cristina e de Torcato para o reprimirem.

Uma circunstância, porém, veio inesperadamente em auxílio deles e concorreu para dissipar a tempestade.

Foi o caso que, depois de ser posto fora da igreja o Zé P’reira, que, pelas razões que o leitor já sabe e inda mais depois do malogro da interpelação ao missionário, não olhava com bons olhos para este, veio desconsoladamente sentar-se no adro, sobre os degraus de um cruzeiro, tendo ao seu lado o popular tambor, instrumento das suas glórias, e que ainda naquele dia servira à frente da procissão.

Aí se conservou enquanto durou o sermão. Junto do artista deitara- se a dormir o seu satélite, o rapaz do bombo, o que, a pancadas compassadas e valentes, secundava os rufos rápidos e febris que o outro executava na caixa - pancadas que eram, por assim dizer, as vírgulas daqueles floridíssimos períodos acústicos.

Em posição de cansaço e desalento o Zé P’reira monologava, como era hábito seu, sempre que tinha o cérebro repassado do espírito familiar.

Lamentava consigo o bom do homem o desmazelo doméstico da sua cara-metade;

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pág. 305 (Capítulo 19)

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Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 305

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506