A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 2: II Pág. 31 / 508

Henrique perdeu a paciência.

- Pois pode sossegar. Olhe.

E apagou a vela meio zangado.

- Fizeste bem, fizeste bem; isto já é tarde, e é melhor fazer por dormir. Então muito boas noites.

- Muito boas noites - respondeu Henrique quase amuado; e ajeitando-se na cama, dizia consigo: - E esta! Já vejo que nem ler me é permitido aqui. Olhem que vida me espera. E isto é que me devia curar? Que fatalidade! Dentro em pouco, os dois felpudos cobertores de papa, únicos que conservava dos cinco primitivos, começaram a fazer o seu efeito, insinuando nos membros cansados da jornada um agradável calor. Convidavam ao sono o som da água num tanque que ficava por debaixo das janelas do quarto e as gotas da chuva, que dos beirais do telhado caíam compassadas na tábua do peitoril. A noite sossegara. De quando em quando apenas algumas lufadas de vento, já menos impetuosas, faziam bater as vidraças.

Era como estes estados, que sucedem a um choro aberto. Correm ainda algumas lágrimas nas faces, mas já não brotam novas dos olhos: saem ainda do peito os soluços, porém mais espaçados; dentro em pouco será completa a serenidade.

Henrique começou a experimentar uma languidez, um delicioso bem-estar naquele confortável leito e no meio daquele sossego; fecharam-se-lhe enfraquecidos os olhos, e deslizou suave, insensivelmente, no mais profundo, tranquilo e restaurador sono, que, havia muito tempo, tinha dormido.





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