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Capítulo 20: XX

Página 321
e cabelos cortados, que cantavam em chorada cantilena estas e análogas quadras, que os missionários, ou os agentes seus, têm quase sempre o cuidado de vulgarizar, como preparatórias dos ânimos impressionáveis das mulheres e das crianças.

Ia em meio uma destas quadras, quando se aproximava a procissão da casa do Cancela.

Este já estava em pé no meio da rua, à espera dela.

O missionário viu aquele homem grande e imóvel no meio do seu caminho, aquele agigantado vulto que, virado de costas para o Poente, se lhe apresentava escuro como um fantasma, e não conjecturou bem do que via. Por isso parou também, olhando para ele. O coro suspendeu-se.

O Cancela fitou por algum tempo em silêncio o padre, e depois perguntou-lhe:

- Sabe quem eu sou?

O padre fez um sinal negativo com a cabeça.

- Sou um homem desesperado, um homem que, neste momento, nem ouve Deus.

O padre olhou inquieto para trás de si e para os lados, como quem procurava uma saída para o caso de necessidade, pois dizia-lhe a razão que um homem que não ouve Deus não estaria muito disposto a escutá-lo, a ele, humilde criatura.

- Sabe o que lhe quero? Perguntar-lhe por a alegria e por a saúde de minha filha; perguntar-lhe por o amor dela, que me roubou; perguntar-lhe a que demónio ofereceu os cabelos daquela criança sem culpas nem maldade; perguntar-lhe com que envenenou o coração, e depois... depois matá-lo.

O padre enfiou; ia a abrir a boca para falar, mas viu caminhar para ele o Cancela, viu no ar aquela mão musculosa e larga, e, calculando a violência do embate pelo volume do braço, julgou-se de antemão esmagado e só pôde encolher os ombros, fechar os olhos, contrair comicamente as feições, e suspender a respiração, aguardando nesta postura o golpe, que não podia evitar.

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pág. 321 (Capítulo 20)

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Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 321

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506