A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 20: XX Pág. 322 / 508

Este de facto não foi suave. A mão do Cancela caiu em parte sobre o cabeção, em parte sobre o pescoço do padre, e com tal força, que este foi constrangido a ajoelhar.

- Anda, meu impostor do Inferno!

E uma forte sacudidela o impeliu para diante e restituiu de novo à primeira posição. O chapéu rolou a alguns passos de distância.

- Anda, meu envenenador de almas!

Nova sacudidela, seguida de iguais resultados, e os óculos seguiram caminho do chapéu.

- Anda, meu caluniador de Deus!

E desta vez o Cancela principiou por colocar o padre em pé e, após, dando-lhe um forte impulso e soltando-o das mãos, deixou-o ir à mercê da força transmitida.

O padre estendeu os braços instintivamente para se amparar na queda provável, e, pé aqui, pé acolá, a passos descomunais, escapou miraculosamente de cair; porém, não conseguiu parar senão a muitos metros de distância.

Escusado é dizer que esta cena não correu entre o silêncio dos espectadores. Mal o Cancela levantou a mão sobre a cabeça do padre, as beatas ergueram um alarido de atroar céu e terra.

- Aqui d’el-rei!

- Aqui d’el-rei sobre o Herodes!

- Aqui d’el-rei, que matam o Sr. Fr. José!

- Quem acode ao Sr. Fr. José?!

- Ai, que matam o santinho do missionário!

E estas e outras vozes pipilavam, uivavam e chiavam aquelas esganiçadas mulheres, sem que o zelo religioso as decidisse, porém, a intervir mais activamente.

A celeuma atraiu gente, e, no número, alguns cabos de polícia, que, em cumprimento dos seus deveres, se acercaram do Herodes, mas com respeito.

Este, porém, não opôs resistência.

Tinha-lhe passado a fúria e voltou-lhe o desalento.

Assim deixou-se levar em prisão, acompanhado das imprecações das beatas e dos gritos de indignação dos homens.





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