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Capítulo 21: XXI

Página 327
muros, desfazia-se em pó a argamassa secular, caíam a golpes de machado as vigas dos tectos e os troncos das árvores, alastrava-se de tijolo e caliça a verdura dos tabuleiros, e, cedo, de toda aquela vivenda tão amena e virente, só restavam ruínas.

Numerosos grupos de já pacificados espectadores seguiam com curiosidade as operações de devastação; mas, longe dali, a maior distância do que os indiferentes, assistiam ao espectáculo os únicos olhos que ele orvalhava de lágrimas, o único coração que ele deveras apertava de dor.

O ervanário fora sentar-se na encosta de um outeiro vizinho, donde se divisava toda a cena. Com a cabeça pousada na mão e o braço apoiado sobre o joelho, com voz comovida, dizia adeus a cada árvore, que dali via vacilar e cair, como se fosse um amigo que o precedesse no túmulo. Parecia ter fugido para longe, para pelo menos não lhes ouvir o estertor da agonia.

Ao lado do velho estava Augusto.

Não era também sem tristeza que ele seguia os progressos da demolição.

Mais do que uma vez tentara arrancar o ervanário daquele sítio.

O velho, porém, resistiu; queria estar ali até ver cair a última árvore.

Ao pinheiral, donde assistia à cena, chegava em confusão o alarido dos trabalhadores, o rumor do manobrar dos instrumentos, e até o da queda das árvores cortadas.

O ervanário, sempre que via brilhar o machado sobre uma nova árvore, recordava sentidamente algum episódio do seu passado, a que ela estava ligada.

- Lá vai aquela faia - dizia ele com intensa melancolia - pobre velha! Era à tua sombra que meu pai me ensinava a ler! Encostava-se àquele tronco sobre a grossa raiz que ele tem à flor da terra e, pegando em mim ao colo, guiava-me nas primeiras lições! E viver eu para te ver cair!

E, ao perceber-lhe balançar as sumidades, o velho fechou os olhos instintivamente.

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pág. 327 (Capítulo 21)

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Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 327

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506