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Capítulo 3: III

Página 33
Acordar só aos raios da aurora é um dos mais inefáveis prazeres a que eles aspiram na vida.

Penetra-lhes então nos membros um insólito vigor; a arca do peito expande-se-lhes mais livre, e as sombras do espírito dissipam-se-lhes com aquele clarão matinal.

Foi o que sucedeu a Henrique. Pela primeira vez, depois de muitos meses, dormira de um sono a noite inteira.

Sentia-se com isto tão bom, tão vigoroso, tão contente que teve vontade de cantar.

Mas o som que o acordara, aquela nota única, em que se confundiam todas as notas da sonhada orquestra, ainda lhe soava nos ouvidos.

Prestando-lhe a atenção de acordado, conheceu que era o chiar dos carros - o mesmo som, que na véspera o irritara, agora, assim a distância, estava-lhe agradando, como nota extraída por mão hábil das cordas de um violino.

Não resistiu por mais tempo ao impulso que naquela manhã o incitava ao exercício, rara disposição no indolente filho da capital, que tinha por hábito ouvir o meio-dia na cama.

Ergueu-se e abriu as janelas.

Não é lícita a comparação entre a mais surpreendente transmutação de uma dessas aparatosas mágicas, que tanto extasiam as multidões embasbacadas nas plateias e camarotes de um teatro, e as que, de instante para instante, realiza a natureza. Descerrando o véu de nuvens que encobre o fulgor do Sol, elevando, acima do horizonte, esse majestoso lampadário do Mundo, ou o brilhante reflectidor que ilumina as noites desanuviadas, a natureza opera, a cada momento, as mais admiráveis e completas metamorfoses.

Durante o sono de Henrique realizara-se um desses efeitos mágicos.

Abrandara gradualmente a violência do sul; o vento, mudando, voltou em sentido oposto a grimpa do campanário; dispersaram-se as nuvens; luziram trémulas

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pág. 33 (Capítulo 3)

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Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 33

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506