Tudo o mais me é indiferente.
Numa pessoa doente vejo um espírito que hesita entre deixar- me e permanecer. Aos médicos peço que removam, se podem, aquilo que o faz partir, mas não quero saber o que é. Julgo natural ao sentimento o considerar assim a moléstia e a morte.
- À maneira da arte, ainda que hoje o diagnóstico entrou na literatura, prima. Mas, a propósito do Herodes, deixe-me dizer-lhe que está sendo muito comentada na aldeia a violência dele contra o missionário. É voz constante que fizera aquilo por influência nossa, e as honras daquela bem empregada sova são-nos também concedidas inteiras. Imagine o clamor que por aí vai!
- Deixe clamar - respondeu Madalena, encolhendo os ombros.
- Deixo, deixo. Eu sou odiado como um Lúcifer, feito homem; seguem-me, quando eu passo, uns olhos rancorosos, e adivinho que na ausência não sou muito bem tratado.
- É bom acautelar-se. Não os irrite. Viu que não era prudente.
- Não receie. Esta gente afinal é cobarde.
- Tanto pior. O inimigo cobarde é mais para temer. Bem sabe.
Foi uma desastrada ideia aquela da nossa ida ao sermão do missionário.
- Parece-lhe? Eu não estou arrependido. Bastava-me, como recompensa, o ter presenciado o acesso de furor rábico do homem.
- Vamos, primo Henrique; confessemos que a situação não foi das mais agradáveis.
- Sinto-a, principalmente por o incómodo que tiveram as senhoras e talvez por esse episódio dar vigor à oposição, que alguém por aí se interessa em organizar contra o Sr. conselheiro.
- Ah! Pois trata-se disso?
- Se se trata?! E muito seriamente. A portaria a respeito do cemitério, a história do sermão, e agora o episódio do Cancela, têm feito um grande mal.
- Oh! Se meu pai perdia!...
- Não entendo essa exclamação, prima Madalena.