A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 22: XXII Pág. 348 / 508

Dera-se mais um exemplo desta flexibilidade de princípios no conselheiro.

Conquanto membro da oposição, e dos mais temidos pela sua eloquência, variados conhecimentos e vigor de discussão, não era ele de tão espinhosa moral que não tivesse amigos no seio da maioria, sendo até o próprio ministro um dos mais íntimos. No tempo da discussão, de que falámos, o ministro, que desejava afastar das Câmaras todos os adversários de importância, não duvidou entrar em ajustes com o conselheiro. Este, que já não era homem para repelir com indignação tais factos, teve a astúcia precisa para se aproveitar das contingências. Entenderam-se.

Chegada a época da discussão, o conselheiro, que sempre se mostrou ardente adversário da medida ministerial, e de quem se esperava uma oposição vigorosa e eficaz, pretextou súbitos negócios a chamá-lo à província, e partiu, prometendo voltar a tempo ainda de discutir a questão.

Depois de chegar ao Mosteiro escreveu para os amigos, lamentando que inesperados negócios de família o retivessem ali mais tempo do que contava, e alentando-os de longe à luta. No entretanto, a questão foi apresentada nas Câmaras: oradores tíbios e mal escutados acharam-se sós a combatê-la; apagadores oficiais e oficiosos abafaram a tempo a discussão; e, quando o conselheiro voltou a Lisboa, só pôde protestar nos círculos políticos contra o resultado da votação e expender as razões que deviam fazer repelir a medida.

Em recompensa eram concedidos melhoramentos para o círculo que o elegia; e entre eles a estrada que vimos principiar. Tal fora o preço dela.

Tudo isto trazia agora à luz a carta desencaminhada, que era do secretário do ministro, e que, no seu conteúdo, deixava ver claramente as condições do pacto.

Esta publicação causou profunda sensação em Lisboa.





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