Era uma dor para enlouquecer, a sua! Ao desalento sucedeu, porém, a reacção. Naquele carácter havia latente uma energia de homem.
- Agora, mais do que nunca, preciso de alento para não sucumbir - exclamou ele, erguendo a cabeça e vindo-lhe às faces o rubor da exaltação. - Obriga-me a isso o nome honrado de meu pai, a santa memória de minha mãe. A consciência me dá forças para lutar com a intriga e com a calúnia, onde quer que ela esteja. Ir-lhe-ei ao encontro, a descoberto, sem disfarce, nem artifícios, como lutador leal. E, se há justiça no Céu, hei-de vencer! Não voltarei mais a esta casa, sem ser com a cabeça erguida; não pensarei mais em ti, Madalena, única suave imagem que ainda me oferecia vida, enquanto não saiba que no teu pensamento o meu nome não é o de um infame.
Ao voltar-se para sair descobriu Madalena, que o observava da porta.
Augusto estremeceu, mas, fazendo por dominar a turbação, curvou- se respeitosamente perante a Morgadinha, e ia a retirar-se.
- Espere - disse-lhe ela, estendendo-lhe a mão, e com profunda melancolia - não saia sem se despedir de uma amiga que, apesar de tudo, o reputou sempre inocente.
Augusto parou, como se aquelas palavras o ferissem no coração.
Madalena, com as faces pálidas e as lágrimas nos olhos, continuava a estender-lhe a mão.
Augusto apoderou-se dela e cobriu-a de beijos e de lágrimas.
- Oh! Obrigado, minha senhora, obrigado! - exclamou ele - Precisava dessas palavras para não enlouquecer.
- Vá, Augusto, vá. Dentro em pouco tempo todos lhe pedirão perdão. Creio-o firmemente.
- E eu não procurarei tornar a vê-la, senão quando puder justificar essa generosa confiança. Juro-lho.
As lágrimas de Madalena não podiam mais tempo conter-se-lhe nos olhos; iam soltar-se e já ela, para as ocultar, desviava o rosto, quando Cristina entrou na sala.