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Capítulo 24: XXIV

Página 372

E é certo que mais do que justificadas tinham de ser estas apreensões da Morgadinha.

Na tarde daquele mesmo dia, em que Ermelinda acordara mais tranquila e animada, renovaram-se subitamente, e assustadores como nunca, os indícios do mal profundo.

Um delírio violento, caracterizado por vagos e mal definidos terrores, gritos angustiosíssimos, contracções espasmódicas, que parecia despedaçarem aquele corpo, frágil e delicado, surgiram de novo, e, ao dissiparem-se, deixaram, como rastos, uma prostração extrema, uma quase completa insensibilidade de funesta significação.

Madalena, assustada, tomou nos braços a débil e emagrecida criança, e trouxe-a para junto de uma janela, donde ainda se avistava o Sol, já quase a esconder-se por detrás de uma colina distante.

Dir-se-ia querer pedir aos froixos raios de um quase crepúsculo de Inverno um pouco de calor para fundir os gelos da morte, que principiavam a invadir os membros delicados daquela formosa criança; ao clarão levemente afogueado do horizonte, um pouco das suas tintas para aquelas faces morbidamente pálidas; à amenidade da paisagem, um reflexo de sorriso para aqueles lábios, onde ele se apagara.

Os olhos de Ermelinda fitaram-se tristemente no Sol já vacilante, com a expressão, cheia de saudade e de poesia, de uma alma jovem, que se despede da vida, e, quando o Sol desapareceu, desviaram- se lentamente para o rosto de Madalena, que a observava com ansiedade.

Ermelinda sorriu; um sorriso mais triste do que as mais tristes lágrimas.

A Morgadinha apertou-a ao seio, comovida.

- Que tens tu, minha filha? - disse-lhe com meiguice, afagando-a.

Ermelinda não respondeu, mas continuou a fitar Madalena com a mesma expressão de afecto e de tristeza.

A Morgadinha aproximou os lábios dos dela para beijá-la.

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pág. 372 (Capítulo 24)

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Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 372

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506