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Capítulo 24: XXIV

Página 373

A pequena doente correspondeu-lhe ainda ao beijo e continuou a fitá-la como dantes. E durou, e durou este olhar até que pareceu a Madalena haver nele não sei que estranha fixidez, que a inquietou.

Palpou as mãos da criança, estavam frias; o coração, parado; chamou-a pelo nome... a mesma fixidez no olhar, a mesma imobilidade nas feições... Estava morta.

Foi assim que se despediu da vida aquele cândido espírito. Foi como o adormecer de uma alma, que algum anjo invisível, namorado dela, arrebatasse nas asas, para o trono de Deus.

A morte de uma criança como Ermelinda é um facto de ordinário indiferente na vida social; alguns sorrisos de menos no Mundo; uma voz que emudece nos festivos coros da infância; algumas sentidas lágrimas de mãe sobre um berço vazio; algumas flores sobre um túmulo; e à superfície das ondas sociais nem sequer a leve vibração que a rosa desfolhada imprime à água tranquila do lago... eis tudo.

A multidão segue no delírio das festas, na luta das paixões, na febre da ambição e das glórias, e o perfume da flor pendida não afecta os sentidos embriagados.

Às vezes, porém, não sucede assim, e assim não devia suceder com Ermelinda.

As paixões humanas, que ante o cadáver de uma criança, coroada de flores cândidas e cingida da alva túnica da pureza, deviam abrandar-se, como diante de uma visão do Céu, tomam-no às vezes por estímulo para mais furiosas se desencadearem, e proclamarem a luta, a sedição e a vingança.

Desde que fora publicada a portaria, proibindo expressamente os enterramentos na igreja, medida tão adversa ao espírito do povo, não tinha havido na terra uma morte que obrigasse a pôr a medida em execução.

A ira popular, exacerbada de contínuo pelas secretas instigações de alguns padres fanáticos ou hipócritas, e dos adversários políticos do conselheiro, rugia, havia muito, surdamente, mas não rompera em explosão por falta de pretexto.

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pág. 373 (Capítulo 24)

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Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 373

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506