Um homem, que parecia chegar de longa jornada, aproximara-se do cemitério, cada vez mais pressuroso à medida que se afirmava nos grupos ali reunidos.
Entrou justamente quando a fúria popular crescia mais impetuosa.
A figura da Morgadinha, em pé sobre os degraus do túmulo, abraçada a ele, dominava toda aquela multidão.
Ao descobri-la à distância, o homem que dissemos soltou uma exclamação, como de quem tinha compreendido ou adivinhado a significação daquela cena; e, apressando ainda mais os passos, achou-se, dentro em pouco, no lugar do motim.
Era tempo.
A populaça alucinada ia talvez exercer algumas dessas irreflectidas violências, que tantas vezes maculam e desonram a causa do povo nas lutas em que ele toma parte.
- Que é isto aqui? - disse o homem, rompendo com os braços potentes a onda que se lhe antolhava.
À rudeza do impulso ninguém resistiu; em pouco tempo abriu caminho até ao meio do círculo.
Uma só voz correu por as diferentes pessoas do grupo dos amotinados.
- O Herodes!... É o Herodes!... - diziam, afastando-se.
Efectivamente era o Cancela o homem que tinha chegado.
Obtendo fiança, graças à intervenção do conselheiro, voltava à terra, ansioso por ver e beijar a filha, cuja ausência fora a única dor que o atormentara.
O desgraçado não sabia ainda da sorte dela.
Uma carta que Madalena lhe escreveu, noticiando-lha, já não o encontrara na prisão, para onde fora dirigida.
Vinha cheio de esperanças o pobre homem, porque eram para animar as últimas notícias recebidas.
Vendo de longe o ajuntamento no cemitério, ouvindo os gritos sediciosos, conjecturou que havia algum motim popular por causa dos enterros no adro, que ele sabia serem antipáticos aos espíritos da terra.
Quando descobriu a Morgadinha, envolvida pelo tumulto, e no túmulo da mãe, previu que ela estava correndo perigo, e apressou- -se logo a acudir-lhe.