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Capítulo 25: XXV

Página 393

Ao chegar, porém, ao meio do círculo, que conseguiu romper, e quando ia a dirigir a palavra a Madalena, reparou para o cadáver da criança do esquife, o qual continuava inda pousado no chão; fitou os olhos naquela pálida e serena fisionomia, inda animada pelo mesmo sorriso de inocências, e, apesar da débil claridade da hora, reconheceu a filha.

Nem um só grito de dor lhe saiu dos lábios, nem um só movimento de surpresa; ficou mudo, imóvel, com os olhos fitos naquela criança morta, com as mãos juntas e com as faces extremamente pálidas.

Perante esta terrível manifestação de dor, que toda se concentra, para num momento gastar mais vida do que o perpassar de muitos anos, calmaram todos os outros sentimentos que dominavam os corações.

Fez-se um profundo silêncio. O Herodes, numa espécie de recolhimento fervoroso, ajoelhou junto do caixão de Ermelinda, e, trémulo, oprimido, quase sem alento para chorar, aproximou a medo as mãos das mãos cruzadas da criança.

Ao primeiro contacto retirou-as rapidamente por achá-las de gelo; mas, tomando-as outra vez, murmurava:

- Jesus, meu Deus! Está morta!... Ermelinda!... Filha!... Isto não pode ser, Senhor!... Pois minha filha está morta?

A paixão principiava enfim a manifestar-se mais tumultuosa; mas havia no tom de voz, com que estas palavras foram pronunciadas, não sei quê tão intimamente doloroso, que pressentia-se que, no curto espaço de tempo que as precedera, se tinha operado naquele peito uma revolução tremenda, como se uma íntima dilaceração o tivesse destruído. Adivinhava-se lá dentro já um desalento mortal, um mal de que se não convalesce nunca. Aquele homem estava perdido.

- Mataram-me a minha pobre filha! A minha Ermelinda... Que mal lhes tinha eu feito para ma matarem?.

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pág. 393 (Capítulo 25)

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Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 393

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506