- Como está ele?
- Estonteado ainda, mas um pouco mais tranquilo do que quando chegou. Os balanços do carro fizeram-lhe mal. Com as bebidas calmantes que lhe tenho dado, achou-se bem.
- E inda não mandaram chamar o cirurgião?
- Já mandei, já veio, já o sangrou, já...
- Mas tua mãe não o sabe e ia mandar...
- Deixa-a lá, Lena. Deixa-a lá com os criados, que por ora não convém que venha. Ele precisa de sossego. Já mandei sair daqui a tia Doroteia, que não adiantava serviço. Queres vir vê-lo?
Madalena seguiu a prima, e entraram ambas no quarto de Henrique.
Mantinham-se ainda em Henrique as consequências da profunda comoção cerebral, que lhe produzira a queda. A tendência ao estado comatoso que apresentava tornava incerto o resultado e melindrosíssimo o caso.
Voltara-lhe a razão e os sentidos; mas tardia aquela, e estes sem possibilidade de longa fixação em qualquer objecto. Sobretudo, o que nele se notava pouco de tranquilizar, era uma indiferença mórbida pelo seu estado e por tudo quanto o cercava.
Aceitou das mãos de Cristina a bebida refrigerante, que ela mesma preparara, com os movimentos quase instintivos do sonâmbulo.
No fim, como se o prazer que o frescor do líquido lhe causara lhe avivasse por instantes a consciência, fitou em Cristina um olhar de gratidão, sorriu-lhe, e, pousando outra vez a cabeça no travesseiro, fechou os olhos para dormir. Esta sonolência era habitual.
Cristina não ficou inactiva; preparava um remédio, arrumava um móvel, desviava os raios da luz da fronte do enfermo; ia ao corredor mandar calar os irmãos ou os criados, ou desfazer alguma dúvida suscitada por os últimos sobre o cumprimento de qualquer ordem; outras vezes parava a espiar o aspecto do doente e a escutar- lhe o ritmo do respirar.