A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 26: XXVI Pág. 402 / 508

- Como está ele?

- Estonteado ainda, mas um pouco mais tranquilo do que quando chegou. Os balanços do carro fizeram-lhe mal. Com as bebidas calmantes que lhe tenho dado, achou-se bem.

- E inda não mandaram chamar o cirurgião?

- Já mandei, já veio, já o sangrou, já...

- Mas tua mãe não o sabe e ia mandar...

- Deixa-a lá, Lena. Deixa-a lá com os criados, que por ora não convém que venha. Ele precisa de sossego. Já mandei sair daqui a tia Doroteia, que não adiantava serviço. Queres vir vê-lo?

Madalena seguiu a prima, e entraram ambas no quarto de Henrique.

Mantinham-se ainda em Henrique as consequências da profunda comoção cerebral, que lhe produzira a queda. A tendência ao estado comatoso que apresentava tornava incerto o resultado e melindrosíssimo o caso.

Voltara-lhe a razão e os sentidos; mas tardia aquela, e estes sem possibilidade de longa fixação em qualquer objecto. Sobretudo, o que nele se notava pouco de tranquilizar, era uma indiferença mórbida pelo seu estado e por tudo quanto o cercava.

Aceitou das mãos de Cristina a bebida refrigerante, que ela mesma preparara, com os movimentos quase instintivos do sonâmbulo.

No fim, como se o prazer que o frescor do líquido lhe causara lhe avivasse por instantes a consciência, fitou em Cristina um olhar de gratidão, sorriu-lhe, e, pousando outra vez a cabeça no travesseiro, fechou os olhos para dormir. Esta sonolência era habitual.

Cristina não ficou inactiva; preparava um remédio, arrumava um móvel, desviava os raios da luz da fronte do enfermo; ia ao corredor mandar calar os irmãos ou os criados, ou desfazer alguma dúvida suscitada por os últimos sobre o cumprimento de qualquer ordem; outras vezes parava a espiar o aspecto do doente e a escutar- lhe o ritmo do respirar.





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