Madalena, que se sentara a um canto da sala, quase subjugada pelas muitas e violentas comoções daquele dia, contemplava a actividade da prima e estranhava-a.
Ela própria, que melhor do que ninguém conhecia Cristina, nunca a supusera capaz daquela firmeza de ânimo e daquele espírito metódico e providencial de que estava dando agora irrecusáveis provas.
Apreciara-lhe até então os dotes de criança, a bondade do coração, os extremos de afecto que possuía; mas ainda a não tinha visto tomando assim tanto a sério a sua missão de mulher e desempenhando- se dela tão dignamente.
Esta ordem de reflexões conduzia naturalmente a outras o espírito da Morgadinha. Reparando para Henrique, assim derrubado no leito, e como que sob a protecção de uma tímida e débil criança que, mais do que ele, parecia carecer de amparo, Madalena não pôde reprimir um sorriso benigno e pensou:
- Sim; aquela cabeça estouvada pôde até hoje passar por este anjo sem o conhecer; mas é preciso não ter coração para que, ao erguer-se daquele leito, não seja o seu primeiro movimento o de ajoelhar diante dela para a adorar. E Henrique não é falto de coração. Lida, lida, minha boa Cristina, que para a tua felicidade lidas. Foi a Providência que quis que tu vencesses com as mais abençoa das armas que concedeu à mulher. Confio em Deus que vencerás. Deixar-te-ei todas as fadigas, para te pertencer todo o prazer.
E, em harmonia com esta resolução, a Morgadinha absteve-se de intervir no tratamento de Henrique.