Parece-me poder afirmar que desta vez já houve correspondência.
O velho Torcato, farto de esperar de fora da capela, e achando que as rezas se prolongavam de mais, resolveu chamar Cristina.
Ao entrar divisou porém três pessoas em lugar de uma só, que esperava, e recuou estupefacto e aterrado.
Supôs que almas penadas andavam na capela.
O bom do homem não ousava aproximar-se.
Madalena, que o ouvira entrar, animou-o, dizendo:
- Não tenha medo, Torcato. A alma de minha madrinha encarregou- me de fazer esta noite as suas vezes. Sou eu.
O espanto do feitor não era agora menor. Esfregava os olhos, como se receasse estar dormindo, e não passava de olhar para Madalena, para Henrique e para Cristina, sem entrar na explicação do que via.
Custou a fazê-lo voltar da sua estupefacção.
Momentos depois entravam todos quatro na sala onde Henrique fora recebido por Madalena, e aí a velha Brízida lhes serviu o chá.
A antiga criada da morgada fez muita festa a Cristina, e, como já percebera a casta de sentimentos que havia entre esta e Henrique, soltou algumas insinuações, que a obrigaram a corar, e a rir Madalena.
Passou-se uma bela noite, conversando-se e rindo-se em perfeita intimidade.
Que longe estava eu hoje de pensar neste delicioso serão! - disse Henrique. - Decididamente é de maravilhas esta casa; o povo tem razão.
A morgada defunta foi decerto quem se encarregou de fazer os convites.
- É verdade: como foi que vieram aqui? - perguntou Cristina, já mais desenleada. - Já sei: foi este Torcato que me não guardou segredo. O que merecia!...
- Eu, menina?! Ora essa! Eu até...
- Neste Torcato há alguma coisa mais para recear do que a indiscrição - disse Madalena.
- Que é? - tornou a prima.
- É a discrição.