- Agora peço-lhe, Cristina, que, já que me fez antever as delícias do viver de família, não me condene para sempre ao suplício de as não ver realizadas. Lembre-se de que não conheci mãe, de que não tenho irmãs, de que tenho vivido só e de que cedo voltarei a essa vida solitária e gelada, que me será agora uma tortura. Compadeça- se de mim. Quer vir ocupar no meu coração o lugar vago que há nele para as afeições de mãe, de irmã, e de...?
- Henrique!... - murmurou quase ininteligivelmente a sobressaltada criança.
- É diante desta Virgem, a quem orava com tanto fervor, é pousando a mão sobre os Evangelhos desse altar, que eu lhe prometo mais do que uma paixão efémera de rapaz; prometo-lhe a constante adoração, rodeada de respeitos, do homem que as suas virtudes reconciliaram com o mundo. Aceite, Cristina, aceite o oferecimento do meu coração.
Cristina tremia sem poder responder.
Madalena entrou por sua vez na capela.
- Não se pode exigir assim uma resposta directa, primo Henrique - disse ela.
Cristina, cada vez mais surpreendida por estas sucessivas e inesperadas aparições, correu para a prima.
- Tu, Lena! Tu também aqui?!
- Então não me competia receber em minha casa as visitas? Mas vamos, diz-me aqui ao ouvido a resposta que queres que eu dê por ti ao Sr. Henrique de Souselas, que me parece acaba de te pedir, muito terminantemente, a tua mão.
Cristina não respondeu senão cingindo-a mais intimamente ao seio.
- Não responderam os lábios, primo - continuou a Morgadinha - mas falou o coração ao meu, na linguagem das pulsações. Estou-o sentindo.
- E disse?...
- Que havia de dizer? Que sim.
E Madalena, que tinha a mão de Cristina na sua, estendeu-a a Henrique, que a apertou apaixonadamente e a beijou de novo.