O Brasileiro era um dos mais activos e fecundos colaboradores desta secção periodística. Os seus comunicados eram estirados, compactos, obscuros e enrevesados tanto ou mais do que os seus discursos. Perdia-se em minuciosos incidentes, em labirintos de orações secundárias, donde a gramática da principal saía frequentemente maltratada, deixando ficar por lá o sujeito, o verbo ou qualquer complemento necessário. Mas o Brasileiro imaginava que o país inteiro aguardava com ânsia os seus escritos. Era frequente abrir uma resposta a alguma zargunchada de um seu adversário por estas palavras: «Os leitores hão-de ter notado o meu silêncio, depois das caluniosas asserções...» Os leitores não tinham notado nada.
Finalmente a aldeia achava-se em plena fermentação política.
Eu tenho a fraqueza de a não amar debaixo daquele aspecto.
A vida política tem isso consigo. Quanto mais estreito, mais apertado é o círculo social onde se manifesta, quanto mais vizinhos e conhecidos são os que vivem dela, tanto mais acanhada, mexeriqueira e antipática se torna. Se a política do nosso país é já pequena como ele, se degenera em desavença de senhoras vizinhas, que fará nas terras pequenas deste país, em que muito acima dos princípios e dos partidos estão os mexericos e as vaidadezinhas que brotam como tortulhos à sombra das árvores do campanário?! Que desconsoladora distância da realidade ao ideal da vida dos povos! Henrique de Souselas não ficara indiferente ao movimento político da aldeia. Pegara-se-lhe a febre eleitoral. Impedido de votar, auxiliava, porém, os parciais do conselheiro com os avisos da sua experiência. Um dia lembrou um meeting. O conselheiro pôs-se a rir.
Que utopia! Com que espécie de eleitores imagina que está tratando? Um meeting, para quê? Não se esqueça de ir domingo à igreja e lá se desenganará por os seus olhos.