O espectáculo não é muito para alegrar, porque mostra como em geral o nosso país está ainda pouco educado no regime constitucional. Mas em todo o caso é instrutivo.
Os manejos dos amigos do conselheiro e principalmente do infatigável Tapadas conseguiram ainda resultados importantes em relação ao tempo em que principiaram a operar com mais energia.
Algumas freguesias havia com que já se podia contar.
A eleição, porém, estava muito arriscada ainda. O Sr. Joãozinho das Perdizes devia decidir a contenda. Para onde se inclinasse o morgado com todo o peso dos seus comparoquianos, desceria o prato da balança.
Contra ele assestou, pois, o conselheiro toda a artilharia; mas sem o menor resultado. O homem evitava subtilmente encontrar-se com ele, e aos seus emissários respondia com insolência. O Seabra pela sua parte nunca o largava, vigiava-o como um precioso tesouro, não se descuidava de o manter nas disposições hostis contra o conselheiro. A todo o momento fazia-lhe sentir o insulto que recebera na taberna, e a necessidade que tinha, para se desafrontar, de infligir uma lição ao conselheiro, com quem Henrique estava ligado. Depois disse-lhe que o conselheiro se gabava de ter dinheiro para comprar o morgado e toda a freguesia.
O morgado, sob estas e análogas instigações, praguejava e jurava despejar na urna ministerial o sufrágio da sua freguesia.
Assim, pois, todas as probabilidades eram a favor do candidato do governo, homem desconhecido deste povo, o qual também era desconhecido para ele, um empregado de secretaria, que nunca saíra de Lisboa e que era o primeiro a rir-se do campanário obscuro de que se propunha ser representante; criatura dos ministros, que o desejavam eleger a todo o custo, por terem nele um voto complacente e um parlamentar de boa feição.