eu dizia, pusemo-nos a falar, e eu estava-lhe dizendo que o povo o vingaria da afronta que lhe fizera o conselheiro, porque ia dar a este um xeque de que ele se havia de lembrar toda a vida, quando o Vicente, que me ouvia de dentro, chamou- me e mandou-me entrar. Foi então que eu o vi... Parecia-me outro!... Imaginem vocês, outro tanto de magro e outro tanto de velho... Metia dó! Pôs-se a perguntar-me muitas coisas, o que havia, o que não havia, por quem estava este, por quem estava aquele... Eu disse-lhe tudo: que o conselheiro, por mais que fizesse, já não podia vencer; que não arranjaria os votos precisos para cobrir a freguesia de Pinchões. O velho ficou admirado quando eu lhe disse que o Sr. Joãozinho era dos nossos. E lá o deixei a remoer a notícia. Ao menos resta-me a consolação de lhe ter adoçado com ela os últimos momentos.
Neste ponto da conversa viram passar por eles Henrique, que ia ter com um agente eleitoral, a sugerir-lhe uma ideia para vencer não sei que eleitor recalcitrante.
- Aí anda este - disse um dos do grupo, seguindo-o com a vista. - Era bem feito que lhe dessem outra lição, como a da taberna do Canada.
- Ordem, ordem e prudência! - disse o Pertunhas. - É preciso manter a liberdade da urna, senhores, e as garantias constitucionais!
- Mas que tem este senhor com as nossas eleições?
- Quem o manda meter-se cá nestas coisas?
- Ora é boa! Então não sabem que ele casa no Mosteiro? - disse o Pertunhas, que andava sempre informado das vidas alheias.
- Sim?!
- É verdade. Há pouco, quando eu estava falando com Augusto, veio a nós o José Barbeiro, que nos deu essa novidade, que lha dissera o Manuel da Quinta, que a ouvira à Gertrudes, criada do Mosteiro.
- Casa com a Morgadinha, já se sabe!
- Pois vedes! Não que a bolada convida! A mim logo me farejou isso, quando vi chegar este figurão cá à terra.