Esta questão não se resolveu de pronto. Trocados alguns alvitres, lida a lei, discutidos os artigos dela, consultados os recenseamentos e mapas, pedidos esclarecimentos ao regedor, ao administrador, e ao pároco, é que se aprovou a proposta do conselheiro e principiou a chamada.
A freguesia de Pinchões faltou em peso.
O Brasileiro estava perturbado: olhava para a porta, olhava para a lista dos recenseados, olhava para os amigos, olhava para os adversários, e sobretudo para o conselheiro, em cuja insistência em principiar a votação julgou descobrir cavilação. Na urna não tinha entrado ainda uma só lista. Pregoou-se o último nome dos eleitores de Pinchões. Ninguém ainda! Passou-se a outra freguesia.
O Brasileiro já não estava em si.
Os primeiros votos recolhidos mal os pôde introduzir na urna, de trémulo e sobressaltado que estava.
O homem supunha que lhe tinha sido roubada à última hora uma freguesia inteira. Não estava muito longe de acreditar que os agentes do conselheiro a haviam arrasado completamente.
A freguesia que se seguia na votação era uma das que se conservavam fiéis ao conselheiro, circunstância que aumentava a indisposição do Seabra.
A votação ia, porém, correndo, interrompida apenas por algumas questiúnculas sobre a identidade de um ou de outro eleitor e sobre a regularidade desta ou daquela lista, graças aos fúteis pretextos de que os contendores lançavam mão para se disputarem, voto a voto, o sufrágio popular.
Ia adiantada a votação quando correu na igreja uma voz, que veio infundir alento no ânimo desfalecido do Brasileiro.
- Vêm aí os de Pinchões!... Aí estão os de Pinchões... Aí vem o Sr. Joãozinho e toda a sua gente! - dizia-se de toda a parte.
Esta nova passou de boca em boca, a ponto de produzir um sussurro na assembleia.