A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 29: XXX Pág. 449 / 508

O dia em que devia mostrar-se orgulhoso, era quando mais se humilhava; quando podia dispor dos destinos dos seus senhores, era quando mais vergava a cabeça sob o peso que estes lhe assentavam.

Não é semelhante esta força inconsciente do povo à do boi robusto e válido, que uma criança dirige e subjuga? Forte como ele, como ele dócil, como ele laborioso, como ele útil, não vê que a mesma força que emprega no trabalho lhe poderia servir para repelir o jugo. Ou, quando o vê, é quando o desespero e a fúria o cegam e o impelem a revoltas tremendas.

Mas o povo de Pinchões, o povo do Sr. Joãozinho, estava muito longe destes excessos.

O morgado vinha, como já disse, à frente.

A barba por fazer, as melenas despenteadas, o lenço do pescoço solto, sem botões o colarinho da camisa, com as mãos metidas no cós das ceroulas, o chicote no bolso da jaqueta de peles, as botas enlameadas até o joelho, a ponta do cigarro ao canto da boca, o palito atrás da orelha, o chapéu sobre o ócciput, dois galgos adiante de si, o inseparável Cosme quase a latere, entrou no adro com ares triunfantes, sorrindo e piscando os olhos para os seus amigos e partidários, como para lhes fazer notar a numerosa procissão que o seguia e a docilidade dos membros dela.

Atrás vinham os eleitores de Pinchões, velhos e moços, ricos e pobres, mas todos com o olhar tímido e estúpido, os movimentos enleados, todos com os olhos no caudilho, para saber o que deviam fazer. Se ele parava a cumprimentar um amigo, paravam todos com ele; a direcção que tomava tomavam-na todos a um tempo; apressavam ou demoravam o passo, segundo a velocidade que ele dava aos seus; se ria, sorriam; se praguejava, tudo ficava sério. O cortejo parou à porta da igreja.

O morgado passou revista à sua tropa, à qual deu instruções.





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