Vou para casa, lá me levará a notícia, e não me dará grande novidade. Adeus.
E, apertando a mão de Henrique, retirou-se para o Mosteiro.
Causou grande pesar ali a nova da morte do ervanário e das várias circunstâncias que a acompanharam.
Não houve quem fosse indiferente ao sucesso, que o conselheiro narrou ainda sob a opressiva influência que ele lhe deixara.
A Morgadinha absteve-se da menor alusão à causa que apressara o fim da vida do ervanário, e evitou sempre que D. Vitória ou Cristina aludissem a ela também. Pressentia que a consciência do pai lho estava exprobrando e por um delicado instinto abstinha-se de se aplaudir das suas previsões, infelizmente realizadas.
Passada a primeira comoção que a lembrança daquela cena produzira, o conselheiro principiou de novo a sentir pungente e vivo o despeito pela derrota que se lhe preparava na urna.
Fazia o possível por se mostrar indiferente a isso; mas a afectação era demasiado transparente, para até nem D. Vitória se iludir.
Assim, por exemplo, dizia ele à filha:
- Ora vão realizar-se os teus votos, Lena; aqui me vais ter, a viver uma vida patriarcal. Se queres que te diga a verdade, está- -me a apetecer; a vida política ia-me cansando já.
Mas como dizia ele isto! Com que sorriso contrafeito, com que mal simulada satisfação! Pouco a pouco, porém, a impaciência começou a apossar-se dele e nem estas exterioridades lhe permitia já.
Àquela hora devia estar a proceder-se na assembleia ao apuramento dos votos.
Esta ideia lançava o conselheiro em um daqueles estados febris, que só pode conceber quem já alguma vez soube o que é ter a sorte dependente de uma votação, e aguardar a cada momento a notícia do resultado dela.
Devora-nos uma impaciência insuportável;